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“Um grama de solo saudável pode conter mais microrganismos do que todas as pessoas do planeta”
Miguel Soares, responsável de viticultura na Quinta de Covela
Na 8.ª edição dos Diálogos de 'Guardiões da Paisagem’ da Suterra, conversamos com Miguel Soares, responsável de viticultura da Quinta de Covela, uma adega situada num lugar muito especial da sub-região de Baião, em Portugal. Miguel é um entusiasta da agricultura regenerativa e um verdadeiro promotor desta forma particular de conceber o cultivo da videira na Península Ibérica. Com efeito, a Quinta de Covela foi a primeira adega portuguesa a receber a certificação da Regenerative Viticulture Alliance.
Da agricultura biológica à viticultura regenerativa
As propriedades da Quinta de Covela são uma combinação de paisagens diversificadas e de grande riqueza, onde a forma de praticar a viticultura esteve sempre profundamente ligada à natureza, explica Miguel Soares. “Há anos que praticamos uma agricultura biológica, mas sentíamos que podíamos fazer algo mais. Foi então que descobrimos a viticultura regenerativa, uma abordagem que não só protege o ambiente como também o melhora com cada ciclo”.
A viticultura regenerativa tornou-se o centro da Quinta de Covela, levando-os a aderir à Associação de Viticultura Regenerativa em Espanha. “É um espaço onde partilhamos ideias e aprendemos uns com os outros. Adotar esta filosofia permitiu-nos dar um passo mais além na forma como cuidamos das nossas vinhas”, comenta Miguel.
O solo como ecossistema vivo
Uma das ideias que Miguel Soares partilhou connosco nesta conversa é a do solo, elemento-chave da agricultura regenerativa, abordado como um ecossistema vivo. Miguel assegura que um grama de solo saudável pode conter mais microrganismos do que todas as pessoas do planeta. “Trabalhamos para preservar e dinamizar essa riqueza microbiológica. Com práticas como o uso de coberturas vegetais e a redução da mobilização do solo, promovemos a biodiversidade e criamos um ciclo virtuoso, que melhora cada vez mais a nossa vinha”.
Tecnologia sustentável: o impacto positivo do sistema Puffer
Entre as muitas inovações que adotaram na Quinta de Covela, destaca-se a transição para o sistema Puffer de confusão sexual para controlar a traça-da-uva. “Antes utilizávamos técnicas tradicionais de confusão sexual, mas os difusores plásticos que distribuíamos na vinha representavam um problema, pelo seu impacto ambiental e pela mão-de-obra que requeriam”, explica Miguel.
Com o sistema de aerossol de feromonas Puffer, a história é diferente. “Agora podemos instalá-los em toda a propriedade numa manhã, com apenas duas pessoas. Além disso, reduzimos os resíduos de plástico de 300 unidades por hectare para apenas dois ou três Puffers por hectare”.
O design do sistema não só facilitou a sua implementação como também demonstrou ser altamente eficaz, num terreno desafiante como o da Covela. “As nossas vinhas são cultivadas em patamares, o que dificulta a aplicação dos inseticidas. Com o Puffer, as feromonas são distribuídas de forma uniforme e natural, eliminando as barreiras”, acrescenta.
Combater a cochonilha com inovação
Nesta busca constante por soluções sustentáveis, também implementaram o difusor de feromonas Celada VMB para o controlo da cochonilha. “A cochonilha é uma praga menor, mas persistente. Decidimos experimentar o sistema e, até agora, os resultados são muito promissores. Estamos entusiasmados para ver como evolui”, garante Miguel.
Um compromisso com a paisagem e com as gerações futuras
Quando lhe perguntamos porque são considerados Guardiões da Paisagem, a sua resposta transborda de convicção: “Herdámos um agroecossistema rico em biodiversidade e repleto de estruturas ecológicas. Preservá-lo não é apenas uma escolha lógica, é uma responsabilidade. Trabalhar aqui significa cuidar deste legado e garantir que as futuras gerações também possam usufruir dele”.
Miguel Soares e a Quinta de Covela são um exemplo brilhante de como a viticultura pode ser sinónimo de sustentabilidade e inovação. Em cada decisão e nos métodos que utilizam reafirmam o seu compromisso com a paisagem, a biodiversidade e um modelo de agricultura virado para o futuro, sem esquecer as suas raízes.
Sobre a agricultura regenerativa
A agricultura regenerativa é uma abordagem do cultivo que visa restaurar e melhorar a saúde do solo, a biodiversidade e os ecossistemas agrícolas. Baseia-se em práticas sustentáveis, como a rotação de culturas e o emprego de técnicas de biocontrolo e de fertilizantes orgânicos, reduzindo ao mínimo a alteração das características do solo e regenerando os recursos naturais em lugar de os esgotar, incrementando assim a resiliência dos terrenos cultivados.
Mais informação:
suterra.com/pt/guardiões-da-paisagem
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